Por: Michael Behe
Livro: “A Caixa preta de
Darwin: o desafio da bioquímica à teoria da evolução”. Editora Jorge Zahar Editor, 1997
(Prefácio).
“É lugar-comum, quase banal,
dizer que a ciência deu grandes passos na compreensão da natureza. As leis da
física são agora tão bem conhecidas que sondas espaciais voam com precisão
absoluta para fotografar mundos situados a bilhões de quilômetros da Terra.
Computadores, telefones, luzes elétricas e incontáveis outros exemplos
confirmam o domínio da ciência e da tecnologia sobre as forças da natureza.
Vacinas e culturas agrícolas de alto rendimento venceram os antigos inimigos da
humanidade, a doença e a fome — pelo menos em algumas partes do mundo. Quase
todas as semanas, anúncios de descobertas na área da biologia molecular
reforçam a esperança pela cura de doenças genéticas e de outras origens.
Ainda assim, compreender de
que forma alguma coisa funciona não é a mesma coisa que compreender como ela
surgiu. Os movimentos dos planetas no sistema solar, por exemplo, podem ser
previstos com espantosa exatidão. A origem do sistema solar (saber como o Sol,
os planetas e suas luas se formaram), contudo, ainda é controversa. A ciência
provavelmente acabará por solucionar esse enigma. Ainda assim, permanece a
questão de que compreender a origem de alguma coisa é diferente de entender
como ela funciona no dia-a-dia.
O domínio da natureza pela
ciência levou várias pessoas a supor que ela pode — na verdade, deve — explicar
também a origem da natureza e da vida. A sugestão de Darwin, de que a vida pode
ser explicada pela ação da seleção natural sobre a variação, tem sido aceita
esmagadoramente há mais de um século nos círculos cultos, apesar dos mecanismos
básicos da vida terem permanecido um completo mistério até poucas décadas
atrás.
A ciência moderna aprendeu
que, em última análise, a vida é um fenômeno molecular: todos os organismos são
feitos de moléculas, que funcionam como porcas e parafusos, engrenagens e
polias dos sistemas biológicos. Sem dúvida, há sistemas biológicos complexos
(como a circulação sanguínea, por exemplo) que surgem em níveis mais altos; os
detalhes comezinhos da vida, porém, constituem a função das biomoléculas. Por
isso mesmo, a ciência da bioquímica, que as estuda, tem por missão a
investigação dos próprios alicerces da vida.
Desde meados da década de
1950, a bioquímica tem elucidado laboriosamente o funcionamento da vida no
nível molecular. Darwin desconhecia o motivo pelo qual ocorria a variação em
uma espécie (um dos requisitos de sua teoria), mas a bioquímica identificou a
base molecular do processo. A ciência do século XIX não podia sequer arriscar
um palpite sobre os mecanismos da visão, da imunidade ou do movimento, ao passo
que a bioquímica identificou as moléculas responsáveis por essas e por outras funções.
No passado pensava-se que a
base da vida era extraordinariamente simples. Essa ideia foi demolida.
Verificou-se que a visão, os movimentos e outras funções biológicas não são
menos sofisticados do que câmeras de televisão e automóveis. Embora a ciência
tenha feito enormes progressos na compreensão de como funciona a química da
vida, a sofisticação e a complexidade dos sistemas biológicos no nível
molecular paralisaram suas tentativas de explicar as origens dos mesmos. Não
houve virtualmente tentativa alguma da ciência de explicar a origem de sistemas
biomoleculares específicos, complexos, e muito menos qualquer progresso nesse
sentido. Muitos cientistas afirmaram corajosamente que já têm tais explicações,
ou que as terão mais cedo ou mais tarde, mas nenhum apoio para essas alegações
pode ser encontrado na literatura científica. Mais importante ainda, há razões
irresistíveis — baseadas na própria estrutura dos sistemas — para se pensar que
uma explicação darwiniana dos mecanismos da vida será para sempre enganosa.
Evolução é uma palavra
versátil. Pode ser usada por uma pessoa para explicar algo tão simples quanto
uma mudança ao longo do tempo, e por outra para indicar a descendência de todas
as formas de vida a partir de um ancestral comum, sem especificar o mecanismo
de mudança. Em seu sentido mais conhecido, biológico, evolução significa um
processo por meio do qual a vida surgiu de matéria não-viva e, mais tarde,
desenvolveu-se inteiramente por meios naturais. Esse é o sentido que Darwin deu
à palavra, e o mesmo que conserva na comunidade científica. E é a acepção em
que usamos a palavra evolução em todo este livro.”
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