Por: Enézio de Almeida
O que a Grande Mídia Tupiniquim (GMT) publicou no Brasil celebrando os 200 anos de Darwin é simplesmente abominável como prática de jornalismo, enquanto jornalismo científico. Os artigos foram ideologicamente motivados por um positivismo e demarcacionismo epistemológico há muito superados. Polarizaram novamente a questão como sendo apenas ciência (racional) versus religião (irracional).
O que a Grande Mídia Tupiniquim (GMT) publicou no Brasil celebrando os 200 anos de Darwin é simplesmente abominável como prática de jornalismo, enquanto jornalismo científico. Os artigos foram ideologicamente motivados por um positivismo e demarcacionismo epistemológico há muito superados. Polarizaram novamente a questão como sendo apenas ciência (racional) versus religião (irracional).
Leitura nas
entrelinhas
Essa
controvérsia é resíduo do ranço materialista do século 19. A controvérsia no século
21 não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos de
criação das concepções religiosas, mas se as evidências corroboram Darwin. Elas
não corroboram, e aí está o ponto científico que deveria ser abordado
ouvindo-se os dois lados publicamente. Elas apontam em outra direção: design
inteligente.
Mesmo
demonizando e desvirtuando o criacionismo e as teses do design inteligente, a
GMT não seguiu a máxima de Marcelo Leite de não dar espaço aos críticos de
Darwin. Os criacionistas, então, ficaram extasiados com o espaço amplo que lhes
foi concedido, algo impensável há alguns anos. Mas deixaram de ler nas
entrelinhas:
2. Os
criacionistas se tornaram "inocentes úteis" nas mãos da GMT e da
nomenklatura científica. Repare que a GMT não convidou nenhum proponente da teoria
do design inteligente aqui no Brasil. Olha que nós temos gente que é membro da
Academia de Ciências...
3. Toda a
crítica à teoria da evolução de Darwin é uma crítica à ciência.
Que a
louvaminhice, o beija-mão e beija-pé de Darwin iriam à beira do êxtase
naturalista ninguém discute. Que a nomenklatura científica e a GMT iriam
"ressuscitar" e "instalar" uma kulturkampf no Brasil
ninguém esperava.
Respostas
pré-programadas
Eu vou jogar uma
ducha de água fria nos criacionistas para que eles saiam de seu estado de
êxtase, torpor de visões do terceiro céu midiático. Vocês estão sendo
inocentemente usados pela GMT como escudo protetor de Darwin contra as críticas
científicas robustas daquilo que ele se propôs explicar: a origem das espécies
através da seleção natural.
Eu não me lembro
de ter lido na Veja, Época, Scientific American Brasil, Folha de S. Paulo, O
Estado de S. Paulo, O Globo, Superinteressante ou Galileu e nem assistido, no
Fantástico, alguns destes questionamentos teóricos:
1. O mecanismo
neodarwinista de seleção natural agindo sobre as variações aleatórias não
parece ser suficiente para produzir: (a) nova informação genética especificada;
(b) sistemas e máquinas moleculares "irredutivelmente complexos",
"funcionalmente integrados" (como os motores bacterianos, circuitos
de transdução de sinal ou o sistema de coagulação sanguínea; (c) novos órgãos e
novas estruturas morfológicas (tais como as asas, penas, os olhos, a
ecolocação, o ovo amniótico, a pele, os sistemas nervosos e a multicelularidade;
(d) novos planos corporais.
2. Muitos
mecanismos de mudanças evolutivas significantes não dependem de mutações
aleatórias, como exige o mecanismo neodarwinista, mas parecem ser dirigidos por
respostas pré-programadas aos estímulos ambientais.
Teoria do ancestral
comum
3. O padrão de
surgimento abrupto das espécies, a falta de elos no registro fóssil (como visto
na explosão cambriana), a revolução marinha no mesozóico e o grande desabrochar
de vida das plantas angiospermas não se conformam com as expectativas
neodarwinistas sobre a história evolutiva da vida.
4. Evidências da
biologia do desenvolvimento sugerem limites nítidos para a quantidade de
mudança evolutiva que as coisas bióticas podem sofrer, lançando dúvidas sobre a
teoria darwinista do ancestral comum e sugerindo uma razão para a estase
morfológica no registro fóssil.
5. Muitas
estruturas homólogas (e até algumas proteínas) derivam de genes não-homólogos,
enquanto que muitas estruturas dessemelhantes derivam de genes similares,
contradizendo as expectativas do neodarwinismo nos dois casos.
6. Os programas
de desenvolvimentos (inferidos) entre os animais metazoários do período
cambriano são dessemelhantes (ou não conservados), contrariando as expectativas
neodarwinistas.
7. O código
genético não tem sido "provado" universal, contrariando as
expectativas neodarwinistas baseadas na teoria do ancestral comum [todos esses
questionamentos teóricos estão baseados na literatura científica recente e de
livre acesso aos professores e alunos de universidades brasileiras públicas e
privadas através do sitehttp://www.capes.gov.br (clique em Periódicos)].
Falta de
liberdade acadêmica
Essas são
algumas das evidências que contrariam a robustez epistêmica da teoria geral da
evolução de Darwin que a nomenklatura científica não quer que venham à tona,
muito menos sendo abordadas em veículos midiáticos da Grande Mídia brasileira.
Ciência versus
religião? O debate que precisa ser debatido é este: a teoria da evolução de
Darwin passa por uma crise epistêmica em um contexto de justificação teórica?
Passa, tanto é que a nova teoria geral da evolução, a Síntese Evolutiva
Ampliada, não será selecionista. A teoria do design inteligente, como teoria de
informação complexa e especificada, será academicamente discutida?
Esse é o tipo de
debate que Darwin, sem dúvida, aprovaria: as controvérsias científicas ajudam
no desenvolvimento da ciência porque em ciência não existe theoria perennis. Nem
a teoria da evolução de Darwin.
Infelizmente,
esse debate não ocorre livremente nas universidades brasileiras públicas e
privadas, e não é abordado francamente pela Grande Mídia. Isso é falta de
liberdade acadêmica e flagrante violação da nossa cidadania em ter acesso a
informações científicas atuais sobre o status da teoria geral da evolução em um
contexto de justificação teórica.
Esse é o debate
que ainda não correu no Brasil.
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