Por que a
comunidade cientifica não aceita entusiasticamente a notável descoberta de que
as máquinas biológicas foram planejadas?
Ou, como indaga
Michael Behe:
Por que a
observação de que houve planejamento só é tocada com luvas de pelica
intelectuais?
Em “A Caixa Preta
de Darwin”, este professor-adjunto de bioquímica da Universidade Lehig
(Pensilvânia, EUA), faz menção de quatro pontos os quais têm servido como
obstáculo para que se não aceite o óbvio fato de que houve um planejamento.
Antes, porém, ele faz a seguinte ponderação sobre a relevância desta descoberta
científica:
“A descoberta se compara às de Newton e
Einstein, Lavoisier e Schrödinger, Pasteur e Darwin. A observação de que houve
planejamento inteligente da vida é tão importante quanto a observação de que a
Terra gira em torno do Sol ou que doenças são causadas por bactérias, ou ainda
que a radiação é emitida em quanta. Seria de se esperar que a magnitude da
vitória, obtida a um custo tão grande em esforço sustentado no curso de
décadas, fizesse rolhas, de champanha espocar em laboratórios em todo o mundo.
Esse triunfo da ciência deveria ter arrancado gritos de "Eureka!" de
dez mil gargantas, conduzido a muitas palmadinhas nas costas e a outros gestos
de congratulações entre colegas e, talvez, justificado um dia de folga. Mas
nenhuma garrafa foi aberta, nem houve qualquer outro tipo de comemoração. Em
vez disso, um silêncio curioso, constrangido, envolve a complexidade pura da
célula” (p. 234, 235).
Bom. Agora vamos às
razões pelas quais, segundo Behe, o chauvinismo científico fecha os olhos para
a realidade de um Design Inteligente:
1 - Lealdade
“Pessoas que dedicam a vida a um trabalho
nobre tornam-se, não raro, ferozmente leais a ele. Um diretor de faculdade, por
exemplo, talvez dedique todos os seus esforços a fortalecer o estabelecimento,
porque educar é um serviço nobre. Um oficial de carreira do exército trabalhará
para melhorar sua arma, porque defender o país constitui um objetivo louvável.
Às vezes, contudo, lealdade a uma determinada instituição ocasiona conflito de
interesses com a finalidade a que ela serve.
O oficial pode lançar suas tropas em combate, de modo
que o exército seja creditado pela vitória, mesmo que fosse mais prudente
deixar que a força aérea atacasse primeiro o inimigo. O diretor da faculdade
poderá, talvez, convencer os deputados de seu estado no Congresso a obter
verbas federais para um novo prédio no campus, mesmo que o dinheiro possa
prestar melhor serviço à educação em outros lugares.
A ciência é uma atividade nobre capaz de gerar uma
feroz lealdade. Tem por finalidade explicar o mundo físico — o que é um
trabalho muito sério. Não obstante, outras disciplinas acadêmicas
(principalmente filosofia e teologia) também estão no campo da explicação de
aspectos do mundo. Embora na maior parte do tempo essas disciplinas não se
cruzem, às vezes elas entram em conflito. Quando isso acontece, alguns
indivíduos dedicados colocam sua disciplina à frente do objetivo a que ela
deveria servir”.
[...]
“Para um participante,da pesquisa, contudo, a conclusão
de que houve planejamento pode ser muito inquietante.Pensar que o conhecimento
dos mecanismos usados para produzir vida estará para sempre fora de seu alcance
é reconhecidamente muito frustrante para numerosos cientistas. Não obstante,
temos que tomar cuidado para não permitir que a antipatia por uma teoria nos
predisponha contra a interpretação imparcial dos dados.
A lealdade a uma instituição é louvável, mas a pura
lealdade não constitui um argumento. Em conjunto, o efeito do chauvinismo
científico sobre teorias do desenvolvimento da vida é um importante dado
sociológico a levar em contra, embora, em última análise, sua importância
intelectual seja nula para a questão do planejamento inteligente” (p. (p. 235-237).
2 - Lição da história
“Encontramos na história a segunda razão da
relutância da ciência em lidar com o elefante. Desde o dia em que a teoria da
evolução foi proposta, alguns cientistas entraram em choque com teólogos sobre
ela. Embora muitos desses teólogos e cientistas pensassem que a evolução
darwiniana poderia ser conciliada sem grandes dificuldades com as crenças
básicas da maioria das religiões, a publicidade sempre focaliza o conflito.
O tom da discussão provavelmente foi estabelecido de
forma definitiva quando o bispo anglicano Samuel Wilberforce debateu com Thomas
Henry Huxley, cientista e ardoroso defensor do evolucionismo, cerca de um ano
após o lançamento do fecundo livro de Darwin. Está documentado que o bispo—bom
teólogo, mas biólogo medíocre — encerrou seu discurso dizendo: "Eu
gostaria de saber: É por parte do avô ou da avó que Huxley afirma ser
descendente de um macaco?" Huxley murmurou alguma coisa como "O
Senhor entregou-o em minhas mãos", e prosseguiu dando à platéia e ao
público uma erudita lição de biologia. Ao fim da exposição, declarou que não
sabia se era através do avô ou da avó que tinha parentesco com um símio, mas
preferia descender de símios do que ser um homem dotado do dom da razão e vê-la
usada como o bispo a usara naquele dia. Mulheres desmaiaram, cientistas
aplaudiram e repórteres saíram correndo para redigir a manchete: "Guerra
entre a ciência e a teologia".
[...]
“Os fatos históricos em torno dos quais cientistas se
chocaram com grupos religiosos são autênticos e provocam verdadeiras reações
emocionais. Levam algumas pessoas bem intencionadas a pensar que uma zona
desmilitarizada deve ser estabelecida entre os dois campos, sem que se permita
qualquer confraternização. Tal como o chauvinismo científico, porém, a
importância de choques históricos para a compreensão científica profunda do
desenvolvimento da vida é quase nula. Não estou alimentando ingenuamente a
esperança de que as descobertas da bioquímica possam estar livres das sombras
da história, mas, na maior extensão possível, deveriam estar” (p. 237-239).
3 – A regra
Referente a uma
regra elaborada por Richard Dickerson, sobre o porquê a ciência deve utilizar
apenas causas naturais como explicação aos eventos naturais.
“Em seu ensaio, portanto, Dickerson não diz
que a prova científica demonstra que o sobrenatural nunca afetou a natureza
(aos preocupados com a definição de sobrenatural, aconselhamos que a substituam
por "uma inteligência superior"). Em vez disso, ele argumenta que, em
princípio, a ciência não deve utilizá-lo. A implicação clara é que não deve ser
invocado, seja verdadeiro ou não.
[...]
Ele não tem razão a priori para pensar que nada existe
além da natureza, mas acha que não constitui boa ciência oferecer o
sobrenatural como explicação de um evento natural.
[...]
É importante notar que o argumento de Dickerson não é
em si científico — não foi descoberto por experimento de laboratório, não resulta
da mistura de elementos químicos em um tubo de ensaio e não constitui uma
hipótese acessível a teste. Ao contrário, é filosofia. Pode ser uma boa
filosofia, ou talvez não. Vamos examiná-la mais atentamente.
[...]
Dickerson menciona apenas uma regra, a que exclui o
sobrenatural. Onde foi que ele a descobriu? Consta de algum livro? É encontrada
nos estatutos de sociedades científicas? Não, claro que não. Podemos examinar
todos os livros usados para ensino de ciências em todas as principais
universidades dos Estados Unidos e não encontraremos a "regra definitiva e
definidora". Nem acharemos quaisquer outras regras gerais prescrevendo
como a ciência deve ser praticada (com exceção de regras de segurança,
exortações à honestidade, e coisas semelhantes).
Não obstante, vamos perguntar: De que maneira a regra
de Dickerson ajuda em alguma coisa? Por acaso ela diz quais questões estão além
da competência da ciência? Fornece-nos diretrizes para separar a ciência da
pseudociência? Oferece uma definição do que é ciência? A resposta a todas essas
perguntas é não.
[...]
Na verdade, a regra de Dickerson parece mais um
aforismo profissional — tal como "o freguês sempre tem razão",
"luz, câmera, ação". São as regras pelas quais os antigos
profissionais viveram, aquilo que pensam que funciona e que resume, em curtas
palavras, parte da sabedoria que desejam passar à geração profissional mais
jovem. Por trás da regra de Dickerson, vemos vagas imagens de vikings
atribuindo o trovão e o raio à obra dos deuses, e feiticeiros tentando expulsar
espíritos demoníacos de doentes.
Mais perto da ciência moderna, lembramo-nos do próprio
Isaac Newton, sugerindo que Deus intervinha ocasionalmente para estabilizar o
sistema solar. A preocupação é que se o sobrenatural fosse admitido como
explicação, não haveria maneira de deter a tendência — seria invocado com
frequência para explicar numerosas coisas que, na realidade, têm explicação
natural. Trata-se de um medo razoável?
[...]
“Outra preocupação que talvez esteja por trás do ensaio
de Dickerson diz respeito ao "método científico". A formulação de
hipóteses, a realização de testes cuidadosos, a replicabilidade— todas essas
condições serviram bem à ciência. Mas de que modo um planejador inteligente
pode ser submetido a teste? Poderá ele ser posto em um tubo de ensaio? Não,
claro que não. E tampouco isso pode ser feito com ancestrais comuns extintos.
O problema é que, em todos os casos em que a ciência
tenta explicar um evento histórico excepcional, testes cuidadosos e
replicabilidade são, por definição, impossíveis. A ciência pode ser capaz de
estudar o movimento de cometas que atualmente aparecem nos céus e submeter a
teste as leis da mecânica newtoniana que descrevem o movimento dos cometas.
Ela, porém, jamais poderá estudar o cometa que supostamente chocou-se com a
terra há milhões de anos. Pode, no entanto, observar os efeitos duradouros dele
na Terra moderna. De forma análoga, pode observar os efeitos que um planejador
produziu sobre a vida.
A observação final que desejo fazer sobre o argumento
de Dickerson é que, embora por certo não fosse essa a sua intenção, ele deu uma
receita para a timidez. Tenta restringir a ciência ao máximo da mesma coisa,
recusando-se a considerar uma explicação basicamente diferente. Tenta colocar a
realidade em uma caixa elegante, mas o universo se recusa a receber esse
tratamento. A origem do universo e o aparecimento da vida são os alicerces
físicos que resultaram em um mundo cheio de agentes conscientes. Não há razão a
priori para pensar que esses eventos básicos devam ser explicados da mesma
maneira que outros eventos físicos. A ciência não é um jogo e cientistas devem
seguir a prova física, aonde quer que ela leve, sem restrições artificiais”(p. 240-244).
4 - Caça-fantasmas
“A quarta e mais poderosa razão da relutância
da ciência em aceitar uma teoria de planejamento inteligente baseia-se também
em considerações filosóficas. Muitas pessoas, inclusive importantes e renomados
cientistas, simplesmente não querem que exista qualquer outra coisa além da
natureza. Não querem que um ser sobrenatural afete a natureza, por mais curta
ou construtiva que essa intervenção tenha sido. Em outras palavras, tal como os
criacionistas da vertente da Terra jovem, eles assumiram um compromisso
filosófico a priori com a ciência, que restringe os tipos de explicações que
aceitariam sobre o mundo físico.
[...]
Para muitos, a ideia do Big Bang estava carregada de
conotações de evento sobrenatural — a criação, os primórdios do universo.
[...]
Não obstante, a despeito de suas implicações
religiosas, o Big Bang era uma teoria científica que derivava naturalmente de
dados de observação, e não de escrituras sagradas ou visões transcendentais. A
maioria dos físicos adotou a teoria do Big Bang e organizou seus programas de
pesquisa de acordo com ela. Alguns, como Einstein antes deles, não gostaram das
implicações extracientíficas da teoria e esforçaram-se para elaborar
alternativas.
[...]
É impossível negar que o Big Bang constituiu um modelo
físico imensamente fértil do universo e, embora muitas perguntas importantes
permaneçam sem resposta (como sempre acontece na ciência básica), ele foi
confirmado por dados de observação. Cientistas como Einstein, Eddington e Hoyle
manipularam suas conclusões para resistir a uma teoria científica que derivava
naturalmente dos dados, porque pensavam que seriam obrigados a aceitar
desagradáveis conclusões filosóficas ou teológicas. Não foram. Eles tinham
outras opiniões.
O sucesso do modelo do Big Bang nada teve a ver com
suas implicações religiosas. Parecia estar de acordo com o dogma
judaico-cristão de um começo do universo, mas ia contra outras religiões que
acreditavam que o universo era eterno. A teoria, no entanto, justificava-se com
dados baseados em observação — a expansão do universo — e não pela invocação de
textos sagrados ou experiências místicas de santos. O modelo procedia
diretamente de dados de observação; não se prestava a um leito de Procusto de
dogma religioso.
Cabe notar, no entanto, que o Big Bang, embora se
harmonize com um ponto de vista religioso, não impõe essa crença. Ninguém
precisa, por uma questão de lógica, chegar a qualquer dada conclusão
sobrenatural baseado apenas em observações e teorias científicas. Esse fato é
visto inicialmente nas tentativas de Einstein e Hoyle de construir modelos
alternativos que se ajustariam aos dados de observação e evitariam o pensamento
desagradável de que o universo teve um começo.
[...]
Dizer que o universo começou com um Big Bang é uma
coisa, mas dizer que a vida foi planejada por uma inteligência é outra bem
diferente. As palavras Big Bang em si lembram apenas imagens de uma explosão, e
não necessariamente de uma pessoa. A expressão planejamento inteligente parece
despertar mais atenção e logo provoca perguntas sobre quem poderia ter sido o
planejador. Indivíduos com posições filosóficas firmes contra o sobrenatural
serão colocados contra a parede por uma teoria? Não. A imaginação humana é
poderosa demais” (p. 245-251).
Eis aí algumas das
mais importantes razões porque em vez de rolhas de champanha espocar em
laboratórios em todo o mundo, ter havido um silêncio curioso e constrangido
envolvendo a complexidade pura da célula.
É isso!
---
Fonte:
Michael Behe. “A Caixa Preta de Darwin”. Tradução: Ruy Jungmann. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1996.
Michael Behe. “A Caixa Preta de Darwin”. Tradução: Ruy Jungmann. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1996.
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