quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Tedeísmo: a arte e o artista

Segundo o ex-monge dominicano, professor universitário e “darwinista de carteirinha”, Francisco Ayala (autor de “Darwin's Gift to Science and Religion”), a evolução "é mais compatível com a crença em um Deus pessoal do que o Design Inteligente”. Segundo ele: “Se Deus projetou os organismos, ele teria muito por que responder". E cita, por exemplo, o fato de que pelo menos 20% das gestações acabam em abortos espontâneos. Sendo assim, diz, caso isso fosse resultado de uma anatomia concebida por inspiração divina, "então Deus é o maior dos aborcionistas". Faz menção também do "sadismo" dos parasitas que devoram vorazmente seus hospedeiros para sobreviver etc. Em relação aos mosquitos-pólvora, cujas fêmeas fertilizam seus ovos consumindo os genitais bem como todo o resto de seus parceiros, supondo Deus como o criador, afirma Ayala: "Ele (Deus) seria sádico, certamente faz coisas muito estranhas e é um engenheiro bastante incompetente".

A falácia do “desenho imperfeito” (ou "mau desenho") é, sem sombras de dúvidas, a crítica mais comum dos opositores do Tedeísmo. Ignorando questões vitais, como, por exemplo, a variedade, a exuberância imaginativa, a liberdade de criação, o gosto estético e tantas outras possibilidades, tais críticos permanecem amarrados à sua própria compreensão do mundo e da vida, restringindo a capacidade de um Planejador à sua própria capacidade. Para tais pessoas, portanto, se a vida fosse resultado de um desenho (ou design) inteligente, o mundo deveria ser uma espécie de paraíso tropical ou Shangri-la. Em outras palavras: seria aquilo que eles fariam caso estivesse no lugar do Planejador ou "no como deveria" ser o mundo caso eles o tivessem planejado.

Trata-se obviamente de uma visão bastante restrita uma vez que desprezam o ponto de vista do “Artista”. Em outras palavras, em vez de contemplarem o quadro completo, concentram seus olhares em minúcias interpretadas subjetivamente ao próprio modo de ver o mundo e a vida. O conceito de “perfeição” e “imperfeição” dessas pessoas é tão diverso quanto seus próprios olhares, mas todos fitando a mesma direção do seu mundo subjetivamente restrito. Mas, como sabiamente escreveu Michael Behe, em “A Caixa Preta de Darwin”:

O argumento baseado na imperfeição ignora a possibilidade de que o planejador possa ter numerosos motivos, e, muitas vezes, a excelência em engenharia ocupa um papel secundário. A maioria das pessoas ao longo da história tem pensado que a vida é planejada, a despeito de doença, morte e outras imperfeições óbvias” (p. 225).

Sim, afinal, poderia, de maneira análoga, perguntar:

Por que certos romances (ou filmes) não têm o fim que acreditamos ser o melhor?
Por que Machado de Assis "matou" Capitu em vez de ter levado à sepultura o falso Bentinho?
Por que Leonardo da Vinci pintou Monalisa com aquele sorriso tão enigmático?
Por que a estátua da liberdade tem 46,5 metros de altura, e não 47,6?

Enfim, não se pode explicar a mente do “artista” no instante em que este concebe sua obra, o que se deve e se pode fazer é tentar explicar sua “arte”, obviamente a posteriori.



É isso!

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