Os enxertos abaixo
foram extraídos do livro "A Caixa Preta de Darwin", com os quais
Michael Behe discorre sobre o conceito de “relojoeiro” na ciência, contrapondo
as visões do teólogo William Paley e do
ideólogo darwinista Richard Dawkins, acrescentando ainda sua visão sobre o assunto. Vejamos...
O Relojoeiro de Paley
"Ao atravessar uma mata, suponha que tropeço numa
pedra e me perguntam como foi ela ali parar. Poderia talvez responder que,
tanto quanto me é dado a saber, a pedra sempre ali esteve; e talvez não fosse
muito fácil mostrar o absurdo desta resposta. Mas suponha que eu tinha
encontrado um relógio no chão e procurava saber como podia ele estar naquele
lugar. Muito dificilmente me poderia ocorrer a resposta que tinha dado antes ―
que, tanto quanto me era dado saber, o relógio poderia sempre ali ter estado.
Contudo, por que razão esta resposta, que serviu para a pedra, não serve para o
relógio? Por que razão não é esta resposta tão admissível no segundo caso como
no primeiro?
Por esta razão e por nenhuma outra: a saber, quando
inspecionamos o relógio, vemos (o que não poderia acontecer no caso da pedra)
que as suas diversas partes estão forjadas e associadas com um propósito; por
exemplo, vemos que as suas diversas partes estão fabricadas e ajustadas de modo
a produzir movimento e que esse movimento está regulado de modo a assinalar a
hora do dia; e vemos que se as suas diversas partes tivessem uma forma
diferente da que têm, se tivessem um tamanho diferente do que têm ou tivessem
sido colocadas de forma diferente daquela em que estão colocadas ou se
estivessem colocadas segundo uma outra ordem qualquer, a máquina não produziria
nenhum movimento ou não produziria nenhum movimento que servisse para o que
este serve.
[…]
Tendo este mecanismo sido observado […], pensamos que a
inferência é inevitável: o relógio teve de ter um criador; teve de existir num
tempo e num ou noutro espaço, um artífice ou artífices que o fabricaram para o
propósito que vemos ter agora e que compreenderam a sua construção e projetaram
o seu uso.[…]
Pois todo o sinal de invenção, toda a manifestação de
desígnio, que existia no relógio, existe nas obras da natureza, com a diferença
de que na natureza são mais, maiores e num grau tal que excede toda a
computação. Quero dizer que os artefatos da natureza ultrapassam os artefatos
da arte em complexidade, em sutileza e em curiosidade do mecanismo; e, se
possível, ainda vão mais além deles em número e variedade; e, no entanto, num
grande número de casos não são menos claramente mecânicos, não são menos claramente
artefatos, não são menos claramente adequados ao seu fim ou menos claramente
adaptados à sua função do que as produções mais perfeitas do engenho humano" (William
Paley, Natural Theology, 1802, Cap. 1, 3 e 27).
O relojoeiro de Dawkins:
“Paley apresenta seu convincente ponto de
vista com belas e reverentes descrições da maquinaria dissecada da vida,
começando com o olho humano... O argumento de Paley é exposto com apaixonante
sinceridade e baseado na melhor erudição biológica de sua época, mas é errado,
gloriosa e totalmente errado. [...] Se podemos dizer [que a seleção natural]
representa o papel do relojoeiro na natureza, é o do relojoeiro cego... Uma
coisa que não farei é depreciar a maravilha dos "relógios" vivos que
tanto inspiraram Paley. Muito ao contrário, tentarei passar minha certeza de
que, neste particular, Paley poderia ter ido ainda mais longe” (Dawkins, R.
(1985), The Blind Watchmaker, W.W. Norton, Londres, p.5).
Agora vamos aos
comentários de Michael Behe sobre o tema:
“Os sentimentos de Dawkins em relação a Paley
são os de um conquistador em relação a um inimigo valoroso, mas derrotado.
Magnânimo na vitória, o cientista de Oxford pode se dar ao luxo de render
homenagem ao clérigo que compartilhava de seu próprio encanto com a complexidade
da natureza. Certamente Dawkins tem razão em considerar Paley derrotado: poucos
filósofos ou cientistas a ele se referem, mesmo de passagem. Os que o fazem,
como Dawkins, agem assim apenas para ignorar, e não para discutir seu
argumento. Paley foi enterrado juntamente com a astronomia centralizada na
Terra e a teoria do flogístico — outro derrotado na luta da ciência para
explicar o mundo.
Mas exatamente em que ponto, poderíamos perguntar,
Paley foi refutado? Quem rebateu seu argumento? De que maneira foi produzido o
relógio, sem um planejador inteligente? É surpreendente, mas verdadeiro, que o
principal argumento do desacreditado Paley nunca foi refutado de fato. Nem
Darwin nem Dawkins, nem a ciência nem a filosofia explicaram como um sistema
irredutivelmente complexo como um relógio poderia ser produzido sem um
planejador.
Em vez disso, o argumento de Paley foi desviado do alvo
por ataques a seus exemplos mal escolhidos e por discussões teológicas
despropositadas. Paley, é claro, merece censura por não ter ordenado seu ponto
de vista com maior precisão. Mas muitos de seus detratores também são
censuráveis por se recusarem a discutir seu argumento principal, bancando os
bobos para chegar a uma conclusão que lhes fosse mais aceitável” (p. 214).
Prossegue Behe:
“Todavia, no que concerne ao exemplo do
relógio, trata-se de um argumento muito bem fundamentado, afinal, ninguém que
encontrasse um relógio acreditaria de sã consciência que ele não tenha sido
planejado. E, sobre este argumento em especial, conclui Behe:
“Em todo o livro, Paley se afasta do aspecto do relógio
— um sistema de componentes interatuantes — que o levou, para começar, a
selecioná-lo. Como frequentemente acontece com todos nós, seu argumento teria
sido muito melhorado se ele tivesse falado menos.
Por causa dessa imprudência, o argumento de Paley tem
sido transformado, ao longo desses anos, em um testa-de-ferro a ser derrubado.
Em vez de enfrentar a complexidade real de um sistema (como a retina ou um
relógio), alguns defensores do darwinismo se satisfazem contando uma história
para explicar aspectos periféricos. Fazendo uma analogia, uma
"explicação" darwiniana de um relógio com tampa começaria supondo-se
que uma fábrica já estava fabricando relógios sem tampa! E, em seguida, a
explicação continuaria, com vistas a mostrar que aperfeiçoamento uma tampa
seria.
Pobre Paley. Seus adversários modernos sentem-se
justificados em supor pontos de partida imensamente complexos (como um relógio
ou uma retina), se pensam que podem explicar um melhoramento simples (tal como
a tampa do relógio ou a curvatura do olho). Nenhum outro argumento é
apresentado, nenhuma explicação é dada da complexidade real, da complexidade
irredutível. E afirmam que a refutação dos exageros de Paley é uma refutação de
seu principal argumento, mesmo aqueles que sabem que não é bem assim.
Paley expressa tão bem o argumento do planejamento que
desperta o respeito até de evolucionistas ferrenhos. Richard Dawkins tirou o
título de seu livro, O relojoeiro cego, da analogia do relógio traçada por
Paley,mas alega que a evolução, e não um agente inteligente, representa o papel
do relojoeiro” (p. 214).
É isso!
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Fonte:
Michael Behe: A Caixa Preta de Darwin. Zahar Editora. Rio de janeiro, 1996.
É isso!
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Fonte:
Michael Behe: A Caixa Preta de Darwin. Zahar Editora. Rio de janeiro, 1996.
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